domingo, 3 de fevereiro de 2008

"matar a saudade" ...


morde me por dentro este sentimento ... esta "coisa" chamada saudade ... consome me as veias e as artérias ... liquidifica a minha tristeza ... esquizofreniza as minhas ideias ... e gela me o coração ... mas se a "mato" ... "mato-me a mim" ...

as palavras são proibidas ... os actos censurados .... "não posso ... não posso ... não posso ... sai-me do corpo ... esqueci-te!" ... vou apenas sussurrando baixinho ... pra me tentar convencer ... e é ao tentar esquecer te que me lembro que te lembro ... que tanto existes em mim ... e é saudade o que sinto ... mas se a "mato" ... "mato-me a mim" ...

rezo o vezes sem conta ... com os olhos bem cerrados ... num esforço vão de acreditar que resultará ... "sou eu terra ... és tu mar que não permite que o barco aporte ... nas tuas águas vais afogando a minha paixão ... não usas cartas de navegação e embates em mim sem piedade ... o nevoeiro do teu mar inutiliza os meus faróis ... as conchas que me habitavam quebraste as com a tua rebentação ... e as gaivotas ... essas não moram mais nos meus rochedos..." e talvez ajude ... talvez a minha oração e a tua ausência sejam o casamento perfeito pra que te apague sempre mais um bocadinho ... será que o estou a conseguir?! ... (será que tu já o conseguiste?!) ... mas enquanto e não ... sinto saudade ... mas se a "mato" ... "mato me a mim" ...

não sei que fazer mais quando a tua ausência me sufoca e esta saudade é maior do que o meu peito pode suportar ... saio para a rua ... procuro em cada rosto o teu olhar e identifico te em cada excentricidade ... vagueio pelos "nossos sítios comuns" e tento deixar te por lá ... mas acabo sempre por descobrir que não estás senão dentro de mim ... E quando a paixão aperta é o teu cheiro que sinto na minha pele ... e apetece virar-me do avesso para te poder abraçar ... é esta saudade que me trai ... mas se a "mato" ... "mato-me a mim" ...

não te vejo ... por medo ... medo de deitar por terra todos os muros que tento construir ... nada me dizes e eu vou edificado torres para que o meu forte te seja impenetrável ... mas quando chegas tudo se desmorona ... o mundo é diferente ... os teus olhos brilham mais que na minha memória poderia lembrar ... os meus lábios ainda sabem de cór os teus ... o teu cabelo ... que é "tão tu" ... é mais desarrumado do que os meus dedos poderiam recordar ... e o teu toque é mais quente ... a memória aviva ... o coração dispara ... e as resistências fracassam ... O mundo é tão diferente ... quando chegas ... e é quando chegas que "mato" esta saudade ... e é quando chegas que "mato" um pouco mais de mim ...

matei a saudade e morri ...

(quadro de N.Righetti)


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